terça-feira, junho 29, 2010

Tradicional Corrida de S. Pedro - Évora

Noite de verão na velhinha feira de S. João de Évora, corrida de S. Pedro, este ano não no dia 29 conforme os bons costumes mas por exigências da FIFA, ou dos adeptos, com pena, transferiu-se para o dia 27, Domingo à noite.
Praça cheia em noite de comemoração do sexagenário da ganadaria Murteira Grave, fez-me recordar as feiras de Sevilha dos anos 90, corridas comentadas por Fernando Fernandéz Róman, para a TVE, onde via o Eng. Grave num burladero do callejón da Maestranza a assistir aos triunfos da sua ganadaria.
Parabéns por 60 anos na condução de uma grande ganadaria, foi para nós um privilégio compartir cartel nesta data tão assinalável.
Para tourear os Graves anunciaram-se Joaquim Bastinhas, Rui Salvador, Luis Rouxinol, ao qual agradecemos a amabilidade e gentileza do brinde que nos dirigiu, Vítor Ribeiro e João Soller Garcia.
Para pegar…nós! Em solitário.
Corrida de Murteira Grave com trapio, sérios na frente, perfeitos de cara, harmoniosos nos pesos e baixos, como se querem para investir.
1.º, 3.º e 6.º com menos mobilidade e codícia, crença nos médios. 2.º, colaborador, muito humilhado, 4.º de grande nota, bravo, com fijeza, para mim, o touro da noite. 5.º, parado, também com crença nos médios.
Inaugurámos a noite com uma pega eficaz e mais uma vez cheia de valor pelo forcado Manuel Rovisco Pais, é difícil transpor para o papel a confiança, vontade e descontracção do Manel, é uma fonte de inspiração para todos, andou para um touro parado e com ideias más, ganhou-lhe terreno e onde se sentia bem carregou, o touro saiu pronto, reuniram perfeitamente e o grupo correspondeu fechando rápido quando o touro pensou em protestar. Boa pega à primeira e bom começo de noite.
O segundo touro foi pegado por mim, brindei-o a todos os que vestem a nossa jaqueta, aos que estavam fardados e aos que não estavam, agradecendo-lhes o facto de poder estar a seu lado numa das coisas que mais gosto, pegar touros.
Não estive bem, peguei à terceira, arranjei uma “sopa de corno” ao Miguel Saturnino e descompus a noite, como verão mais à frente. Ainda bem que fui eu e não outro.
Fui o Joker numa noite de ases…
O touro humilhava muito, aos pés, não recuei o que normalmente faço e fui colhido duas vezes nos pés.
A fechar a primeira parte pegou o Guga, à primeira, uma pega que lhe fazia falta para alimentar o ego e dar-lhe confiança, coisa que na minha opinião nunca lhe faltaram, mas andava triste por as coisas não lhe estarem a sair bem. Um touro sério, com crença nos médios logo pressupunha a reunião antes ou depois do sítio da crença, o Guga tentou mas não conseguiu, o touro trepou-lhe por cima e foi-lhe ao pescoço, mas com muita moral e vontade o forcado não saiu e foi superiormente ajudado pelo grupo, todos, independentemente de como o forcado vem agarrado ao touro, todos acreditaram e a pega resultou. Realço a grande ajuda do Luis Engeitado, muito bem!
Foi uma pega de muito valor e moral do grupo, do cara ao rabejador, quem acredita consegue!
A segunda parte começou com um pega do Vasco Fernandes, à primeira, a um bravo Murteira Grave, bonito no cite, exemplar na reunião, rápido no fechar-se, pega muito vistosa, excelentemente rematada por todos, não houve erros.
Para o quinto, o momento mais emotivo da noite, poucos se aperceberam, alguns ainda provavelmente desconhecerão, mas era a última pega do Gonçalo Mira, saiu como entrou, pela porta da discrição, como os forcados de verdade fazem. Parabéns por tudo e por teres sido dos cernelheiros que tem a honra de ficar na História dos forcados.
Um entrada espectacular, coordenação perfeita entre cernelheiro e rabejador, muita moral e vontade, pena que já no fim, quando o touro estava prestes a dar-se por derrotado, pisa o Gonçalo e este cai, não merecia entrar uma segunda vez, com o touro derrotado, mas na verdade ficou na retina a primeira entrada e a sua espectacularidade. Como aficionado agradeço-vos este momento.
Ao cair do pano, outra boa pega à primeira do forcado António Alfacinha, que este ano está a fazer uma época extraordinária, um touro parado e com pouca mobilidade, o António citou de largo, deixando-se ver, andou na medida e carregou para receber e não mais sair, não recebe o touro na perfeição, talvez porque no momento de reunir dá um ligeiro salto e adianta-se ao touro, mas uma vez que lá envolve os braços, dificilmente sai, o touro parou e o grupo entrou todo, rematando a pega e a nossa actuação.
Há muito tempo que não via uma actuação tão conseguida do nosso Grupo, mais ainda, não me lembro de termos uma corrida tão boa, de seis touros, nos últimos anos, não pelo facto de termos pegado apenas um touro à terceira, o meu, e os restantes à primeira, mas pela maneira como o grupo se apresentou, sem pressões, nervosismos, cabeça limpa e ideias claras, com uma intenção muito grande em nos divertirmos, que foi o que aconteceu, realçando sempre a seriedade da corrida.
A época corre a gosto, assim seja sempre.
Parabéns, tenho muito orgulho em ser vosso par nesta passagem da nossa vida.
Um grande abraço e….GOSTO DISTO!

Fotos de Florindo Piteira