domingo, abril 20, 2008

17 de Abril - Campo Pequeno

Se algo se pode dizer à chamada deste cronista a este blog é que peca por tardia! Fernando Ramos é forcado do Grupo ( porque embora não envergue já a jaqueta, nunca deixou de o ser), pertencente ao sempre importante "Núcleo de Elvas" que tantos e tão bons forcados nos tem trazido. É um Homem que acompanha sempre o seu Grupo, mesmo quando não está presente fisicamente, fá-lo através deste blog onde frequentemente participa. É um daqueles Forcados que sente o Grupo como ninguém e que nos momentos bons envia sempre o seu abraço, mas que nos momentos menos bons faz questão de estar presente e dar o seu apoio e as suas sábias palavras. Um amigo para todas as horas, sobretudo para as más que é quando os verdadeiros amigos aparecem e se revelam, e quando mais necessitamos deles...

"Nota prévia:
Quero aqui manifestar publicamente, quer a honra, quer a gratidão que senti, quando o Manuel Silveira me abordou incumbindo-me de comentar a corrida que teve lugar na passada quinta-feira na Praça de Toiros do Campo Pequeno. Reconhecendo que outros estariam em melhor posição de a comentar, pelo maior saber, colocarei, no entanto, o melhor de mim na tarefa de que fui incumbido. Vamos então à corrida.

A pretérita noite de 17 de Abril de 2008 marcou o início da temporada taurina na principal praça de toiros do país. Num cartel bem composto, actuaram os cavaleiros lusos Luís Rouxinol e João Moura Júnior e, da vizinha Espanha, veio essa figura emergente do toureio a cavalo hispano, o cavaleiro Pablo Hermoso de Mendonza.
Ladeado à direita e bem precedido pelo Grupo de Forcados Amadores da Santarém, entrou em ordem o Grupo de Forcados Amadores de Évora, seguido do grupo de Forcados Amadores de Vila franca de Xira. Ao contrário do que, quer os prospectos, quer os cartazes, indicavam, o GFAE actuou na ordem natural. Presumo que o erro haja sido meramente tipográfico.
Num curro de seis toiros da ganadaria de Romão Tenório, calharam-nos, assim, para a pega, o 2º e o 4º do lote, ambos lidados pelo cavaleiro vindo do país vizinho.
O 2º toiro da noite, após uma lide a cavalo bem conseguida por Pablo Hermoso de Mendonza, apresentava-se de investida franca, passando bem, deixando antever uma boa pega face ao forcado indicado para o pegar. De notável qualidade de entendimento dos toiros que lhe têm calhado em sorte, a par da raça que sobejamente lhe conhecemos, o Bernardo Patinhas teve, no entanto, um momento que não deverá esquecer, até pela craveira alta de forcado que tem. Daí a desilusão e crença de que esta foi definitivamente a excepção que confirmou uma regra assente: Aos bons forcados também lhe calham dias maus. Adiante.
Provocada a investida do toiro, com a praça respeitando o forcado com o silêncio que momento exigia, o Bernardo acusou os “apalpões” e as mazelas sofridas em terras mexicanas e a pega não se consumou. O toiro investiu franco e o Bernardo, ao contrário do que nos habituou não o pega e, nestes casos, já se sabe; toiros com peso e idade ainda que sem quererem fazer mal, empurram e “vão aprendendo” de tentativa para tentativa, defendendo-se e tornando cada vez mais difícil a consumação da pega.
Magoado, quiçá mais no brio do que no corpo, esquecendo a dor física, ainda assim, o Bernardo, apresentou-se por quatro vezes para tentar a pega. Mau grado não o fez e, recolhendo à teia, sucedem-se duas tentativas goradas de pega de cernelha. Abrem-se as portas dos curros e a valentia, o brio, o destemor físico, a par do amor à jaqueta e ao GFAE, fizeram o resto, impendido assim que o toiro regressasse a curros sem se ter consumado a pega.
Ao Bernardo Patinhas duas palavras: A minha total e inabdicável confiança em ti como forcado e a crença de que tiveste o Grupo sempre contigo.
Pelos que gostam e passaram pelo GFAE, o 2º da noite havia sido de choque e surpresa, pelo que o intervalo trouxe alguma mágoa que nem um scotch amenizou. O momento igualava a noite que fazia lá fora.
Vem o quarto da noite e o cabo chama o Gonçalo Pires “Árabe” para a pega. Num cite galhardo, a boa voz, impondo-se ao toiro e à praça, lá foi compondo aquilo a que o poeta Manolo Ruiz denominou como obra de arte plástica em movimento. Colhendo a atenção do toiro e o silêncio da praça, preparava-se para o “carregar”, quando o toiro lhe sai um pouco solto mas gaspeado, parecendo que a investida passaria mesmo ao lado do forcado. A voz forte na cara do toiro e o dobrar-se, compondo-se assim com ele, a par de um extraordinário crer materializado num par de braços fenomenais, permitiram uma pega de altíssimo nível.
Sujeitando-se a dois derrotes ásperos e deles se recompondo, o Árabe, leva o toiro para dentro do Grupo e as ajudas cumpriram bem o papel que o cabo lhes destinou. Enquanto o toiro ainda empurrava a praça levantou-se em aplausos. Falou o público e, o momento, ficará para sempre marcado na memória daqueles que o viram. Poder-se-ia, julgaram alguns, que a pega do Árabe condicionasse a crónica face ao que se tinha passado antes, tentando fazer esquecer o primeiro toiro do GFAE.
Pelo contrário, foi a frieza e o distanciamento dos dias que me permitiram relatar já sem emoção o que de facto vi no 4º toiro da noite. A excelência será o adjectivo menor para descrever a pega do Árabe e o mesmo se estende ao grupo que não se apoucou em momento algum.
Só, frente a esta máquina fria denominada “PC” e enquanto revia mentalmente as imagens da corrida, fui à minha mini garrafeira e destapei uma Eugénio de Almeida tinto, deixando-a arejar um pouco. Após ter escrito estas singelas mas sentidas palavras, enchi e ergui a minha taça, acompanhado em espírito por todos os que passaram pelo meu Grupo, gritando bem alto:
- Pelo Grupo de Évora: Venha Vinho, venha vinho, venha vinho!...Venha!"



Fernando Ramos - "Bambino"
Fotos: Francisco Romeiras - fonte: www.tauromania.pt

terça-feira, abril 01, 2008

29 de Março - Festa do Forcado em Évora

Para a Crónica desta corrida foi convidado um forcado que por cá passou, que sabe o que é ser forcado e que conhece o GFAE como ninguem. Alguém que pela sua dedicação merece tudo de nos. É uma pessoa polémica é um facto, mas é acima de tudo um defensor do Grupo de Évora que o vive intensamente como poucos. É autor de frases como "sou faccioso porque eu quero" ou "O GFAE não é melhor nem pior, é diferente..." ! Muita gente perguntava para quando esta crónica, e ela finalmente apareceu, em Évora e na festa do Forcado, como ele merece, tem a palavra Carlos de Jesus, o nosso "Beto"!

" A Arena d'Évora foi palco no dia 29 de Março de dois eventos tauromáquicos que tiveram como figura central o forcado. A cidade capital do forcado acolheu na tarde de sábado a Festa do Forcado e uma corrida de toiros à portuguesa.
João Salgueiro, Victor Ribeiro e Manuel Lupi compuseram o cartel onde lidaram toiros com cinco anos de idade, oriundos da ganadaria de Manuel Coimbra. A pegar estiveram o Grupo de Forcados Amadores de Montemor e o Grupo de Forcados Amadores de Évora com a particularidade de o dia ser dedicado ao forcado, coisa rara no panorama taurino nacional, isto com um sinal positivo, porque ainda existem empresários (obrigado, Carlos Pegado), que realçam com todo o mérito essa figura que é o forcado amador, ainda por cima na Catedral do Forcado, que quer queiram ou não é a Praça de Évora.Em relação à corrida, penso que foi uma Corrida agradável de seguir, apesar dos toiros pouco terem contribuído, não houve triunfos nem triunfadores, mas os dois momentos altos da corrida foram as duas pegas do GFAE, ao 2º e 4º toiro da noite.

1º Toiro – Gonçalo Pires – Primeiro dizer-lhe que a pega começa pelo brinde, e que é um forcado que está num momento espectacular, mas que ainda pode melhorar. Citou muito bem, sacou o toiro na altura certa e reuniu a dar o peito ao toiro (como manda a regra), foi uma reunião dura com o toiro a empregar-se e o grupo a ajudar muito bem, como sabe, e em particular o 1º ajuda Francisco Abreu.



2º Toiro – António Moura Dias – Outro forcado num belo momento, já tinha acabado a época anterior em bom plano, muito bem no cite e a reunir melhor ainda, também com o toiro a empregar-se e a ter também uma reunião dura e a entrar pelo grupo dentro já muito bem fechado na cara do toiro. Foi também muito bem ajudado, onde se destacou pela sua bela ajuda o 1º ajuda - Diogo Cabral – pela qual teve direito a dar volta a arena (bem merecida) com o forcado da cara.





3º Toiro – Ricardo Casas Novas - outro forcado por quem tenho admiração e que está a vir de menos a mais, e que demonstrou que têm de contar com ele, desta pega só tenho a dizer, que o único forcado em praça na 1ª e 2ª tentativa foi de facto o Ricardo, porque o resto do grupo não estava lá, na 3ª tentativa o Ricardo esteve novamente bem e não fosse a preciosa ajuda ao pé das tábuas do Carlos Sequeira não teria sido pegado novamente. Mas há momentos, só quem está na arena é que sabe, mas que custa ver um grupo que ajuda da maneira como vocês ajudam, dá zanga estar na bancada e ver aquilo e ouvir comentários do vizinho do lado e ter que ficar impotente.







Para fechar este comentário gostava que o Gonçalo Mira, que na minha opinião é dos melhores rabejadores que andam por aí e que esteve muito bem a entrar nos toiros como ele sabe, terminasse as lides um bocado mais levantado, porque é já habitual essa posição na maioria dos rabejadores que por aí andam, esteticamente é feio e menos eficiente.
Que tenham uma grande época!
Por vocês e com amizade,
Venha vinho, venha vinho, venha vinho,
Beto"